quarta-feira, 11 de julho de 2012

Opinião: "o apocalipse dos trabalhadores"

Autor: Valter Hugo Mãe
Editor: QuidNovi
Edição/reimpressão: Julho de 2008
ISBN: 9789896280659
Páginas: 184

Sinopse: A maria da graça - mulher-a-dias em Bragança esquecida do mundo - tem a ambição, não tão secreta como isso, de morrer de amor; e por isso sonha recorrentemente com a entrada no Paraíso, onde vai à procura do senhor Ferreira, seu antigo patrão, que, apesar de sovina e abusador, lhe falou de Goya, Rilke, Bergman ou Mozart como homens que impressionaram o próprio Deus. Mas às portas do céu acotovelam-se mercadores de souvenirs em brigas constantes e são pedro não faz mais do que a enxotar dali a cada visita. 
Tal como a maria da graça, todas as personagens deste livro buscam o seu paraíso; e, aflitas com a esperança, ou esperança nenhuma, de um dia serem felizes, acham que a felicidade vale qualquer risco, nem que seja para as lançar alegremente no abismo. 
o apocalipse dos trabalhadores é um retrato do nosso tempo, feito da precariedade e dessa esperança difícil. Um retrato desenhado através de duas mulheres-a-dias, um reformado e um jovem ucraniano que reflectem sobre os caminhos sinuosos do engenho e da vontade humana num Portugal com cada vez mais imigrantes e sobre como isso parece perturbar a sociedade.

A minha opinião: Depois de ter lido O filho de mil homens, a vontade de voltar a Valter Hugo Mãe concretizou-se com este o apocalipse dos trabalhadores. Não gostei tanto, estranhei bastante mais a escrita, mas curiosamente, e como pensei inicialmente, não foi a falta de maiúsculas que me fez confusão. Foi sim o facto do texto ser todo corrido. A narração mistura-se com o diálogo, que se mistura com a descrição, que, por sua vez se mistura com o pensamento das personagens. E foi particularmente difícil em relação aos diálogos, na medida em que várias vezes tive dificuldade em perceber quem dizia o quê e tinha de reler para tentar perceber.

Mas não deixa de ser um livro que se lê rapidamente. Há uma fluência na escrita que faz com que avancemos na leitura sem nos darmos conta. E ao mesmo tempo há uma profundidade na mesma que faz com que tenhamos, por vezes, de parar para assimilar o que lemos.

É uma história de amores, de como encontramos o amor nos sítios (e nas pessoas) mais improváveis. O apocalipse de que nos fala o título é a revelação do amor, poderoso e devastador, mudando a vida daqueles que atinge. E neste caso, atinge os trabalhadores, duas mulheres-a-dias/carpideiras, mulheres desencantadas com a vida, que julgam que o amor não é para elas, mas que a vida se encarrega de provar erradas. E atinge também os homens que amam, mesmo sem querer, um patrão velho e maldito que toma liberdades com a empregada e um jovem trabalhador de Leste forçado a abandonar o país e a família em busca de uma vida melhor e que encontra numa portuguesa gorda o consolo e a companhia que havia deixado no seu país.

A leitura deste livro leva-me a concluir que o forte do autor são as personagens. Dá-lhes uma profundidade tal que quase se tornam reais aos nossos olhos. São sempre personagens sofridas, com o peso do mundo às costas e cujo infortúnio acompanhamos.

Valter Hugo Mãe é um autor que vou, sem dúvida, continuar a ler.

Classificação: 3

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